quarta-feira, 30 de julho de 2014

Os 150 anos de Zeferino Galvão

Marcelo O. do Nascimento


No dia 9 de maio de 1864 nascia, em área então pertencente ao município do Brejo, Zeferino Cândido Galvão Filho, intelectual que dispensa apresentações. Segundo ele mesmo, em autobiografia (mil vezes infelizmente desaparecida), chegou a Pesqueira aos seis anos de idade, no mês de maio de 1870. Aqui não ficou rico, ganhou tão somente o necessário para sobreviver, mas tornou-se o maior escritor que a cidade já viu. Foi professor, historiador, filósofo, poeta, jornalista, linguista… Deixou uma obra gigante, mas que muito pouco é conhecida. Muitos de seus trabalhos não chegaram a ser publicados e alguns foram perdidos.

Esse ano completaram-se 90 anos de sua morte, tendo falecido em 1º de fevereiro de 1924. completaram-se também, neste mês de maio, além dos 150 anos de seu nascimento, 144 anos de sua chegada a Pesqueira. Observador, como deveria ser, viu grande parte da evolução de Pesqueira, registros que talvez tenha feito na autobiografia, mas que também talvez nunca cheguemos a conhecer. Nela, em trecho conhecido, disse ele sobre esta terra: “encontrei-a pequena e obscura, monótona e mal construída […] cresci e ela cresceu comigo. De simples vila passou a cidade; tornando-se rica, enchendo-se de habitantes…”

Este mês de maio de 2014 passaria em branco se não fosse a pequena mas importante publicação “Sesquicentenário de Zeferino Cândido Galvão Filho”. É o reconhecimento da Prefeitura Municipal (responsável pela edição), através do Instituto Histórico e Geográfico de Pesqueira e da Fundação de Cultura que carrega o nome do intelectual homenageado. Em trecho da apresentação, resume-se o seu propósito:

“… mais que lembrar o Sesquicentenário de seu nascimento é fazer com que a sua vida e obra chegue aos estudantes e de um modo geral à comunidade pesqueirense, investindo em práticas pedagógicas que visem despertar o gosto pela leitura e a adoção de novos pontos de vista e novas posturas pelo universo literário”.

http://www.pesqueirahistorica.com/2014/05/os-150-anos-de-zeferino-galvao.html

O historiador Dr. Luís Wilson

Por: Pedro Salviano Filho

(Coluna Histórias da Região - edição maio/junho de 2014  - Jornal de Arcoverde)

A foto da formatura do Dr. Luís Wilson, em 1940, no Recife. Especializou-se em oftalmologia.

            Em 2017 acontecerá o centenário de nascimento de Luís Wilson de Sá Ferraz. Ele foi um pesquisador incansável e deixou um legado de muitos registros históricos para a nossa região, hoje base fundamental para pesquisas.
            Filho do legendário Manuel (Noé) Nunes Ferraz, figura pitoresca, destacando-se como fazedor de frases de efeito que espalhava pelos seus negócios, despertando a admiração dos fregueses e visitantes.
            Boa parte dos 70 anos que viveu, Luís Wilson os dedicou a uma apaixonante pesquisa histórica da região, documentada nos seus muitos e importantes livros:

"Minha Cidade, Minha Saudade" (1972),
"Vila Bela - Os Pereira e Outras Histórias" (1974),
"Roteiro de Velhos e Grandes Sertanejos" (3 volumes, 1978),
 "Ararobá, Lendária e Eterna - Notas para a História de Pesqueira" (1980),
Município de Arcoverde, cronologia e outras notas” (1982),
"Roteiro de Velhos Cantadores e Poetas Populares do Sertão, Estado de Pernambuco" (1985) e
"Anísio Galvão e Outras Notas para a História de Pesqueira" (1986).

            Encontramos raras fotos do Luís Wilson. A primeira apareceu nesta coluna em 2011:http://goo.gl/Bs4gCt. As imagens mostradas nesta matéria foram gentilmente obtidas junto ao seu irmão Dr. Cleomadson Ferraz (com 87 anos de idade e residindo em Recife, em junho 2014).
            Diferentemente de Noé Nunes Ferraz, a quem Arcoverde prestou devidas homenagens comnome de ruahttp://goo.gl/2fte5a, restaurante do SESC com o nome Restaurante seu Noéhttp://goo.gl/xnHvF9 (reinaugurado em julho de 2012)  e nome de escolahttp://goo.gl/WJ7KzQ ehttp://goo.gl/92WvWo, o seu filho Luís Wilson, tem em Arcoverde, apenas a denominação do praticamente desconhecido “Campus Universitário historiador Luís Wilson de Sá Ferraz”, da AESA - Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde,  homenagem da Prefeitura e Câmara Municipalhttp://goo.gl/WyH7ZY. Já a Prefeitura e Câmara Municipal de Pesqueira o homenagearam com a Rua Historiador Luiz Wilson de Sá Ferraz, no Bairro Pedra Redonda, enquanto em Recife o Centro de Estudos de História Municipal da F.I.A.M., em 22 de maio de 1992, colocou-o na galeria dos historiadoreshttp://goo.gl/YxHZAr. Em 29 de novembro de 1989, através da Lei 15.298, ele recebia outra homenagem póstuma com o Posto de Saúde Deputado Luís Wilson, também em Recife.
            Em 1992, cinco anos após sua morte, 34 pessoas colaboraram para a escrita da sua biografia, num livro organizado por José Otávio Cavalcanti, intitulado “Luís Wilson. Uma biografia”.
            Da matéria “Luís Wilson. Um personagem”, deste livro e também do mencionado José Otávio destacamos alguns textos:
            «...Seu falecimento ocorrido em 7 de dezembro de 1987, foi profundamente lamentado por toda a sociedade pernambucana. especialmente no meio intelectual, por ter fartamente enriquecido com um sem número de contribuições. (...) Luís Wilson nasceu em 18 de agosto de 1917, em Vila Bela, antiga denominação da atual cidade de Serra Talhada. Esse era o nome da montanha cortada a prumo, pertencente ao sistema da Borborema, à margem direita do Rio do
Feiticeiro (o Rio Pajeú) e da velha fazenda do português Agostinho Nunes de Magalhães, origem daquela tradicional cidade.
            Seus pais Manuel Nunes Ferraz e Maria Licor Pereira Ferraz mudaram-se para Arcoverde, então conhecida pelo nome de Rio Branco, fazendo-se acompanhar dos filhos, inclusive Luís Wilson.
            O velho Manuel Nunes Ferraz instalou a princípio, a Padaria Confiança, e posteriormente, o Bar e Sorveteria Confiança. O bar tinha uma feição original, com as paredes cheias de frases engraçadas, o que aliado ao espirito comunicativo do dono, sempre tendo uma rápida e espirituosa solução para qualquer problema, tornou-o figura popular na cidade e circunvizinhanças, ficando conhecido pelo apelido de "Seu" Noé. (...)           
A verve era muita, porém escassa a pecúnia. Aquele tipo de comércio numa longínqua cidade do interior, e sobretudo. numa tão remota época, era de precária rentabilidade. Nessas condições, a formação letiva e profissional de Luís Wilson foi muito custosa para as modestas posses dos pais; conta-se que numa de suas férias escolares, sua mãe, D. Licor, temendo a descontinuidade dos estudos do filho, desfez-se de um dos poucos e pequenos imóveis que possuía.
            Em seguida à sua alfabetização, foi para o Colégio Diocesano de D. José Antônio de Oliveira Lopes, 1° Bispo de Pesqueira, onde fez o curso primário. Estudou o curso secundário no Instituto Carneiro Leão, no Recife, e parte desse curso no Ginásio Diocesano de Garanhuns.
            Ingressou na Faculdade de Medicina do Recife. tendo sido concluinte da Turma de 1940.
            Iniciou a atividade médico-profissional em Sertânia, antiga Alagoa de Baixo, pelo breve espaço de 5 a 6 meses, para em seguida setransferir para Pesqueira, onde clinicou de 1941 a 1947.
            Daí veio para o Recife, onde após vários cursos, adotou a oftalmologia como sua atividade profissional. Nesse campo teve grande interesse pelo tracoma, para o que esteve no Rio de Janeiro, onde frequentou curso de especialização a respeito, e sobre o que escreveu vários trabalhos. A incidência maior dessa infecção se fazia principalmente, nas populações pobres do Sertão, talvez a razão primordial do seu interesse, já que seu labor médico esteve sempre voltado para os desa­fortunados.            
Do seu currículo médico ainda constam, entre outros, os de Oftalmologista do Departamento de Saúde Pública, de Diretor do Sanatório Padre Antônio Manuel.
            Nesse saudoso companheiro integravam pari passu, o escritor, o pesquisador, o genealogista, o folclorista e o telúrico».
            Ainda no “Luís Wilson. Uma biografia”, pág.44.  Fernandes Viana define:
            «Seu estilo objetivo e ameno retrata o amorável daquele mundo e de sua gente. Feliz a terra que possui um filho para cantá-la. Se todas tivessem um Luís Wilson, o Brasil seria ainda maior e mais integrado. Seu livro vale o esforço com que você o plasmou. Ambos – você e Arcoverde, estão de alvíssaras».
            Mais artigos desta coluna: http://goo.gl/lWA4Hv


Foto no Diário de Pernambuco (dia 26 de outubro de 1978, secção C, pág.1), por ocasião do lançamento do 3o. volume do "Roteiro de Velhos e Grandes Sertanejos".

Noé Nunes Ferraz, figura popular de Arcoverde, pai do Dr. Luís Wilson.

Dr. Luís Wilson, sua mãe Maria Licor Pereira Ferraz e o primo Benedito Ferraz (falecido há 2 anos).
Outra foto no Diário de Pernambuco por ocasião de lançamento de mais um livro.

A ascendência nordestina

Por: Pedro Salviano Filho

(Coluna Histórias da Região - Edição de Julho/Agosto de 2014 - Jornal de Arcoverde)

«Um fazendeiro e sua esposa em viagem», ilustração do livro «Viagens ao Nordeste do Brasil», de Henry Koster, livro lançado em 1816.

Qual a origem do homem nordestino? De onde mesmo viemos?

Retomando o trabalho de Borges da Fonseca, a Nobilarquia Pernambucana, o pesquisador Cândido Pinheiro desenvolveu um projeto para resgatar a verdadeira história do homem nordestino, especialmente no período colonial (1530-1815). Para facilitar a compreensão sobre esta volumosa pesquisa, remetemos os leitores a vídeos com entrevista com o autorhttp://goo.gl/tdVWQP e http://goo.gl/H6BfcW e também entrevista em jornal http://goo.gl/gh3dYC   Jornal O POVO de18-3-2013.
A nova obra, com 10 volumes, começou a ser apresentada ano passado, com "Albuquerque: A herança de Jerônimo, o Torto". Recife, Fundação Gilberto Freire, 2013 – 656 p. e “Liras. O nome e o sangue – uma charada familiar no Pernambuco Colonial” – 610 p. Em julho deste 2014 foi lançado “O crime de Simões Colaço”. 458p. E a previsão é que em outubro próximo será lançado “Lucena” e em novembro “Abrahão Senhor”. Tenho adquirido os volumes lançados através da Fundação Gilberto Freyre. Rua Dois Irmãos, 320 Apipucos 52071-440 Recife - PE Fone 55 81 3441-3348.
                Borges da Fonseca – Antônio José Vitoriano Borges da Fonseca – nasceu em 1718 e era recifense. Ele morreu em abril de 1786 e foi sepultado no Mosteiro de São Bento de Olinda. Foi governador e capitão-geral da capitania do Ceará, no período entre 1765-1782.
                Produzida em 1748, em quatro volumes manuscritos, a Nobiliarquia Pernambucana é a mais importante obra para os estudiosos da genealogia do Nordeste na época colonial. A obra abrange numerosas famílias portuguesas ligadas à história de Pernambuco.
                O primeiro volume desta Coleção Borges da Fonseca, do Dr. Cândido Pinheiro Koren de Lima, resgata como os Albuquerques chegaram a Pernambuco com o donatário Duarte Coelho e como Jerônimo de Albuquerque, o “Adão pernambucano”, com 36 filhos documentados, semeou seu sangue por todo o território nordestino. O segundo volume da mesma Coleção, “Os Liras: o nome e o sangue – uma charada familiar no Pernambuco Colonial”, trata da origem da família da Ilha da Madeira, de Portugal. A pesquisa aponta que os antepassados dessa família chegaram a Pernambuco sem cor definida, e acredita-se que ocupavam altos cargos no Santo Ofício de Portugal e Madeira. Os Liras que chegam a Pernambuco logo tomam as cores raciais da capitania. Os chamados “Novos de Lira” possuíam sangue judeu.  O livro narra o casamento de Gonçalo Novo de Lira com uma provável neta de Branca Dias e Diogo Fernandes, este o casal mais denunciado pelo Santo Ofício de Pernambuco (1593-1595). O estudo ainda aponta que Gonçalo Novo de Lira IV se casou com uma mulher da família Pacheco, descendente do judeu Ruy Capão, que trazia da Ibéria além desse sangue, os traços do muçulmano semita e do muçulmano negro da África do Norte.
                Do volume “Albuquerque. A herança de Jerônimo, o Torto”, recortei alguns textos (a partir da página 20), com o convite aos leitores para consultarem a obra:
                «Ao fim dos dez volumes do trabalho, escrito sobre o documentado por Borges da Fonseca, verificou-se que, além do sangue ibérico quinhentista, tem-se:
                80% da população nordestina colonial e por extensão óbvia, a atual, porta em si o sangue judeu, o sangue do nativo indígena, o do negro muçulmano (Rram) da África do Norte e muçulmano semita.
                Quando exclui-se a influência do sangue novo nativo chega-se a notar que 95% de nossa gente possui o sangue judeu, muçulmano semita e muçulmano rramita da África pré-saariana.
                2% da nossa gente documentada, além do sangue judeu, do muçulmano-semita, do muçulmano-rramita, negro pré-saariano, também porta o sangue originário do negro escravo subsaa­riano. Este pode ser originário de Portugal ou da colônia.
                Resumidos:
95 % da população (ibero como aqui chega)
80% da população (com sangue nativo)
2% da população (com sangue negro escravo subsaariano).
3% da população. Sem troncos raciais religiosos identificados
                Para nós, foi decepcionante a quantidade de descendentes do negro escravo do período colo­nial na obra documental da elite nordestina por Borges da Fonseca. É surpreendente o que se viu de descendentes de "negra brasilla" escrava ou forra. Como dir-se-á logo após, quando cá chegou o ibero, e pontualmente outros europeus (italianos, alemães, holandeses e etc), vieram solteiros, precisavam de mulheres e de alianças para dominarem a terra e a seus nativos extremamente mais numerosos. Criaram-se estruturas familiares com os da terra, que apesar de não cartoriais eram assim; deste modo, o nativo foi levado a anexar-se à elite europeia documentada. Ele próprio, o nativo, mais das vezes era elite, poder na terra, com seu DNA de poder intacto. Exemplo disto são as uniões, com filhos de principais da terra de Jerônimo de Albuquerque, Caramuru e Vasco de Lucena. Somou-se DNA de elite europeia documentada com o DNA da elite da terra. Este somatório é que permitiu aos seus descendentes a perpetuação no poder. O sangue principal do nativo não diminuiu a ânsia pela elite e poder do europeu, só reforçou-a. Não há exemplo melhor do que o que foi visto com o primeiro Marquês de Pombal, o homem mais poderoso de Portugal a sua época, o reconstrutor de Lisboa, após o grande terremoto que quase a destruiu.
                Quando o negro escravo subsaariano aqui chegou, encontrou o homem ibérico já enlaçado no sangue nativo. O peninsular já tinha em si o sangue negro (pré-saariano). Este, porém, era sangue de elite, de conquistadores que dominaram a Espanha por quase 8 séculos.
                A dinâmica do processo escravagista na África subsaariana foi terrível. Uma fração mínima dos sequestrados era classe dominante em sua terra. Na África, os mais fortes ajudavam a aprisio­nar e vender os mais fracos para os europeus como escravos. A destruição da estrutura familiar e social na origem, no momento da apreensão, e na hora da venda, acabou com as lideranças deles. Depois, como se deles nada se esperasse além do trabalho braçal e subordinação, foi-se paulatinamente destruindo com chicote, grilhões, fome e assassinatos, geração após geração, todo poder de reação. Moldou-se o DNA do negro escravo subsaariano no nordeste de modo a ser inferior a um animal de trabalho, e muitas vezes pior tratado que estes. A ligação com mulher negra desta origem, sabe-se, ocorreu fortemente. Agora, no entanto, o homem colonial nordestino da elite documentada não precisava mais de alianças, nem desesperadamente de mulheres como quando cá aportou. Suas ligações com escravas negras foram, na grande maioria das vezes, fortuitas, ocasionais, havidas com mulheres submissas, com DNA corrigido para não serem de elite, mas de animais de trabalho. O produto desta união, a não ser em casos excepcionais, não foi elite, não tinha DNA desta, e levará séculos para se corrigir esta brutal seleção natural inversa. Aqui, repetia-se a seleção visando apenas músculos e submissão. O mínimo que se pode fazer agora para contornar o problema é valer-se da educação. Nada mais correto e justo que a prática de quo­tas raciais para os descendentes de negros escravos em escolas particulares ou não, em qualquer nível, inclusive o universitário. Uma política agrária correta para os descendentes destes negros é outra medida que deve ser implementada já, com muito mais seriedade e intensidade, mais do que aquela praticada com nossos nativos. Apesar destes existirem em número pequeno em estado puro, a maioria deles está entre nós, dentro de nós, na elite, no poder. Os negros escravos subsaa­rianos, que aqui chegaram e que tiveram o componente de seu DNA de poder de elite destruído, estão fora desta elite, sua representação nela é mínima. Não possuem qualquer possibilidade, inclusive a de protestar, de lutar. Eles também perderam estas qualidades na terrível obra pra­ticada nas senzalas, e nos quartos escuros e infectos das fazendas e nos troncos de tormento. Os índios nativos em seu estado natural mantiveram as relações familiares. A convivência milenar, o enfrentamento de problemas diários apurou sua classe dominante, as características de poder e elite. Estas características levam à luta e ao protesto. Com isto, eles têm sido mais ouvidos, auxi­liados por uma obra assistencial religiosa mundial que os enxerga, apenas eles, como vítimas, e não entende a maior vítima, o descendente do negro escravo subsaariano, perdido e mudo, que sobrevive muitas vezes vegetante entre nós.
                Nos Liras e nos Albuquerques, dois troncos originários em negros escravos subsaarianos, se sobressaem. O primeiro e o mais conhecido é o originado em Bem Feitinha escrava negra que dá origem a João Fernandes Vieira, havido em um relacionamento casual. O moço tem uma das carreiras mais brilhantes que se tem notícia. Inicia a vida como auxiliar de açougueiro. Com a chegada dos holandeses, a quem adere, começou por ser serviçal deles, e chegou a sócio dos maiorais batavos na terra. Tornou-se o homem mais rico do período holandês. Sua fortuna mul­tiplicou-se quando aderiu à Portugal em detrimento da Holanda, e chefiando civilmente a insur­reição. Vitorioso, recebeu enorme espólio, inclusive, o governo de capitanias e na África. Deixou descendência apenas fora do casamento, que disseminou o sangue subsaariano entre nós.
                Outro tronco de escravos médio africanos destacado nos Liras, nos Albuquerques e Branca Dias é o originário nos Silveiras Bezerras ou Bezerras Silveiras com importante disseminação entre as famílias do Nordeste.
                Nos Lucenas fomos capazes de detectar apenas representantes da descendência de Bem Feitinha, mãe de João Fernandes Vieira  pelo casamento de Maria Joana César filha do supracitado e neta de Bem Feitinha com Jerônimo de César Melo.
                O último ponto deste estudo, e o mais delicado é o que trata das relações extraconjugais, fora do casamento oficial, fortuitas ou familiares, e seus produtos, os bastardos. E a pergunta que se fez sobre o assunto no início do trabalho, que ele tentou responder, era se na Península Ibérica e, por extensão, no Nordeste brasileiro, em um estudo que abrangesse séculos, seria possível que alguém chegasse ao período colonial e, por extensão lógica aos nossos dias sem possuir alguma origem bastarda. A resposta é não. Usando-se a mesma técnica de disseminação de troncos raciais e religiosos muçulmanos e judeus sobre o homem ibérico de início ateu depois católico, que apor­tou no nordeste brasileiro; tentando-se ver a permeação do sangue bastardo originário em padres e freiras ou no homem comum, verifica-se, finalmente, que todos nós possuímos algum tronco bastardo clerical ou leigo. Estes troncos bastardos permeiam por toda elite documentada por Borges da Fonseca e por extensão até nossos dias».